Soltem-me, pedia Yoani

... Vão ter de escutar Porque se algo tenho é a palavra para falar Yoani Sanchez Uma jovem mulher de Cuba que sofreu violência institucional. Quantas de nós aqui também no Brasil sofreram de violência policial! ...
...
"As duas violências foram muito graves, a doméstica e a institucional. Em ambas, me senti impotente. Mas não ver a quem recorrer é algo que deixa a pessoa muito frustrada, deprimida"

Maria da Penha

quarta-feira, outubro 10, 2007

'Nem gestantes são poupadas da violência doméstica'

Leia na Revista Digital Envolverde: 'Nem gestantes são poupadas da violência doméstica' em http://www.envolverde.com.br/?materia=38568O mais antigo site de Jornalismo Ambiental da Internet Brasileira (1996)http://www.envolverde.com.br/Atualização Diária, Leitura Cotidiana

Pesquisa inédita feita em Campinas mostra que, de cada seis mulheres, uma é vítima do companheiro.No Brasil, a violência doméstica contra a mulher alcança proporções dramáticas. Segundo a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, vinculada à Presidência da República, uma em cada cinco brasileiras sofre algum tipo de violência por parte do parceiro íntimo.
Embora inquietantes, os números não são capazes de mostrar, por si só, o grau de brutalidade a que essas vítimas são submetidas. Um dado revelador dessa situação é fornecido pela pesquisa desenvolvida para a tese de doutoramento em Saúde Coletiva da enfermeira Celene Aparecida Ferrari Audi, apresentada em agosto último na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Conforme o estudo, realizado na região Sudoeste de Campinas, nem mesmo as gestantes são poupadas desse flagelo. De cada seis, uma é alvo de algum tipo de violência, representada na forma de espancamento, coação, pressão psicológica ou abuso sexual por parte do companheiro.Programa visa ampliar número de parceriasA pesquisa de Celene, a primeira do gênero no Brasil, foi feita junto a 1.379 mulheres, no período de 2004 a 2006. Foram ouvidas gestantes que realizaram o acompanhamento pré-natal nas unidades públicas de saúde. Destas, 19,1% declararam ter sofrido violência psicológica, que é caracterizada por ofensas, intimidações e atos de humilhação. Além disso, 6,5% disseram ter sido vítimas de violência física ou sexual. “Os dados do estudo revelam que o problema é extremamente preocupante e que por isso mesmo deve merecer uma reflexão mais aprofundada tanto por parte das autoridades quanto da sociedade”, analisa a pesquisadora.A enfermeira faz questão de ressaltar que a despeito de a pesquisa ter sido realizada numa região carente, a violência doméstica contra a mulher não pode ser automaticamente associada à pobreza. “
As vítimas e seus algozes podem ser encontrados em todas as classes sociais. Ocorre, porém, que nas esferas mais altas o problema é tratado de forma muito mais velada”, adverte. De acordo com Celene, a agressão psicológica, física ou sexual contra a mulher está relacionada a uma série de fatores. Um deles é a violência mais geral presente na sociedade. Todavia, ela identificou alguns componentes específicos no caso das gestantes que participaram da pesquisa.Em relação à violência psicológica, foi apurado que o risco é maior para as gestantes cujos parceiros consomem bebidas alcoólicas com freqüência superior a uma vez por semana. No que toca à violência física/sexual, foi constatado que o companheiro da gestante usava drogas e consumia álcool mais de uma vez na semana. Em boa parte dos casos, as mulheres disseram ser responsável pela família, o que indica que o desemprego do homem também está associado de alguma forma com a problemática. Essa associação também observada em relação às gestantes que presenciaram ou sofreram agressão física na infância, relataram sentir-se rejeitadas por estarem grávidas, assim como àquelas que tiveram dificuldade em comparecer à consulta pré-natal. “Nós também detectamos que as mulheres sob maior risco de violência doméstica são as que apresentam baixa escolaridade”, afirma Celene.A enfermeira relata que, por meio da análise dos dados, não foi possível observar uma associação significativa entre a violência contra as gestantes e o baixo peso ou o nascimento prematuro das crianças. Em relação aos eventos adversos manifestados durante a gestação, a pesquisa apurou que os mais freqüentes foram infecção urinária, falta de desejo sexual, afecções ginecológicas, enxaqueca, sentimento de rejeição e distúrbios neuróticos. “As prevalências de violências observadas e os fatores a elas associados evidenciam a magnitude do problema. A situação é grave e precisa ser enfrentada o quanto antes”, defende a autora da pesquisa.Nesse sentido, Celene destaca que algumas iniciativas já foram adotadas, como a promulgação por parte do governo federal, em agosto de 2006, da Lei Maria da Penha, que tornou mais severas as penas aos agressores de mulheres. “Sem dúvida, a medida foi extremamente positiva. Entretanto, ainda carecemos de mecanismos adequados para assistir as vítimas da violência doméstica. O estudo constatou que durante o atendimento pré-natal, essa questão praticamente não é abordada, seja pela falta de preparo dos profissionais, seja pela falta de estrutura”, avalia.A enfermeira sugere a adoção de programas que permitam tanto a identificação quanto a abordagem apropriada do problema, preferencialmente por intermédio de ações inter e multidisciplinar no âmbito da saúde pública. “Se não for dessa forma, temo que a prevalência e a gravidade da violência perpetrada contra as a mulheres não diminuam na medida do desejado e do necessário”, completa Celene, que foi orientada pela professora Ana Maria Segall-Corrêa, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM. O estudo foi financiado pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e Saúde, por meio, respectivamente, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Departamento de Ciência e Tecnologia em Saúde (Decit).Uma dor silenciosaA violência doméstica perpetrada contra as gestantes é, em si, dramática. Não é preciso carregar no tom para tornar o tema mais chocante do que ele já é. Todavia, tratar do assunto sem dar voz às vítimas poderia comprometer o objetivo de denunciar o problema em toda a sua amplitude. Afinal, como diz a canção: “Paz sem voz, não é paz. É medo”. Assim, o Jornal da Unicamp optou por revelar aspectos das agressões sofridas por algumas dessas mulheres, por meio do relato que elas fizeram às entrevistadoras que colaboraram com a pesquisa da enfermeira Celene Aparecida Ferrari Audi. Registre-se que essas entrevistadoras tiveram apoio psicológico durante todo o trabalho de campo, medida que se mostrou fundamental à efetivação do estudo. “Todas nós ficamos abaladas com a realidade que encontramos”, admite a autora do estudo.De acordo com Celene, os parceiros íntimos dessas mulheres praticam toda sorte de agressão contra suas companheiras. Socos, pontapés, tapas, xingamentos e humilhações são comuns na vida da maioria delas. “Uma delas me disse que o marido a agredia freqüentemente, inclusive com chutes na barriga”. Mas o caso que mais chocou a pesquisadora foi de uma mulher que relatou ter sido espancada com uma ripa de madeira, extraída da moldura de um quadro que estava na parede. “Ela falou que o marido chegou bêbado em casa, tirou a madeira do quadro e começou a bater nela com muita força”.Um aspecto que chamou a atenção de Celene foi a percepção que algumas mulheres têm da violência. Uma das gestantes garantiu às entrevistadoras que o marido não era violento. Entretanto, admitiu que ele era bastante ciumento. Em seguida, lembrou de um episódio em que o companheiro chegou em casa e a encontrou conversando com um parente. Irritado, o homem sacou de uma arma e deu um tiro para o alto. “Na cabeça daquela mulher, a atitude do marido não se configurava como uma ação violenta, muito provavelmente porque a banalização daquela situação fez com que ela passasse a encará-la como normal”, infere a enfermeira.Peso da leiPromulgada em agosto de 2006, a Lei Maria da Penha entrou em vigor no mês seguinte. A legislação alterou o Código Penal, impondo penas mais severas àqueles que cometem violência contra as mulheres. O texto determina que os agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão preventiva decretada pela Justiça. Além disso, impede que os algozes tenham o benefício da pena alternativa. A nova legislação estabelece, ainda, que o tempo máximo de detenção seja de três anos. Anteriormente, esse período era de um ano somente.
A lei foi batizada de Maria da Penha em homenagem à biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que lutou durante 20 anos para que seu agressor, o professor universitário Marco Antonio H. Viveros, seu ex-marido, fosse condenado. Em 1983, Viveros tentou matá-la em duas oportunidades. Na primeira vez, ele deu um tiro na mulher, que ficou paraplégica. Na segunda, tentou eletrocutá-la. Na ocasião, a vítima tinha 38 anos e três filhas, entre 2 e 6 anos de idade. A investigação teve início no mesmo ano, mas a denúncia só foi apresentada pelo Ministério Público em 1984. Oito anos depois, o agressor foi condenado a oito anos de prisão, mas usou de filigranas jurídicas para protelar o cumprimento da pena.O caso foi levado ao conhecimento da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acatou, pela primeira vez, a denúncia de um crime de violência doméstica. Viveros foi preso em 28 de outubro de 2002 e cumpriu dois anos de prisão. Atualmente, está em liberdade. Depois das tentativas de homicídio, Maria da Penha tornou-se uma ativista de movimentos sociais contra a violência e a impunidade.
Ela é a atual primeira vice-coordenadora da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV), instalada no Ceará, seu Estado.Quando a lei que leva o seu nome foi promulgada, Maria da Penha deu a seguinte declaração: “Eu acho que a sociedade estava aguardando essa lei.
A mulher não tem mais vergonha [de denunciar]. Ela não tinha condição de denunciar e ser atendida na preservação da sua vida”. Sobre a importância da denúncia especificamente, ela acrescentou: “Não adianta conviver. Porque a cada dia essa agressão vai aumentar e terminar em assassinato”. De acordo com levantamento parcial realizado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, durante os primeiros oito meses de vigência da lei Maria da Penha foram instaurados 32.630 inquéritos policiais, 10.450 processos criminais, 864 prisões em flagrante e 77 prisões preventivas. (Envolverde/Jornal da Unicamp)http://envolverde.ig.com.br/?materia=38568#

quarta-feira, julho 11, 2007

Conversas sobre a Violência

SEGUNDO INFORMACOES DEPOIS DA LEI MARIA DA PENHA .FOI REDUZIDO O NUMERO DE DEPOIMENTOS NA OPINIAO DE VOCES ESTA REDUCAO SERIA MEDO QUE A ALGUMAS MULHERES TEM DO AGRESSOR FICAR PRESO.

Posso elencar inúmeras razões para tal redução, algumas delas:

> Os homens sabem agora que tem uma lei 11.340 da qual não podeão escapar com facilidade, então podem ter realmente diminuído com suas violências.

> Mulheres muitas vezes desejam permanecer com seus maridos, porem gostariam de colocar um freio na violência, agora com esta lei, a situação fica mais radical, portanto a mulher também pensará melhor em faze-la.

< A lei está em vigor, porém as delegacias e o judiciario não estão preparados e aptos para ela, então não tomam as medidas protetivas com presteza, nem as intimações aos maridos são endereçadas com urgência. ( algumas levam 90 dias.... )

As mulheres não tem proteção da Policia nem do Judiciário com presteza e agilidade, então o risco é grande. A sociedade se cala, ningém quer se envolver, ninguém dá um simples telefonema. A mulher fica sem proteção.

> Caso haja uma sentença baseada nesta lei, as mulheres continuam sendo ameaçadas, caçadas por este marido/companheiro que diz " quando sair vou acabar com você".


A realidade é brutal, as dificuldades são imensas. Eu mesma entrei com petição e ocorrencia em Dezembro de 2006 e até hoje nem uma linha me responderam e olhe que só pedi o afastamento pelas ruas!

Compreenda que nossa sociedade prefere assistir a Linha Direta, do que discar um número de telefone que possa evitar uma tragédia.


Se não temos apoio das próprias mulheres como imaginar ter apoio na Lei dos Homens?

terça-feira, maio 22, 2007

Lei Maria da Penha! Urgente!

Brasília/DF. Pedimos atenção ao informe e manifestação do movimento de mulheres e feministas, pois trata-se de ação inédita e poderá ter caráter de jurisprudência em se tratando da Lei Maria da Penha. O caso será julgado no próximo dia 24 de maio e quem desejar se manifestar enquanto instituição ou pessoalmente, enviem correspondência ou e-mail para o Desembargador Lécio Resende da Silva Palácio da Justiça - Praça Municipal, lote 01 Cep 70094 - 900 Brasília/DF. O e-mail é presidencia@tjdft.gov.br
Vamos mobilizar a sociedade civil e tornar este caso uma jurisprudência em favor das mulheres e da aplicação da Lei Maria da Penha!
TJDF) decidirá se o crime de lesão qualificado pela violência doméstica contra a mulher depende da autorização (representação) das vítimas.
Será o julgamento do primeiro caso no Distrito Federal sobre a questão, proveniente de recurso da Segunda Promotoria Especial de Samambaia, que se insurgiu contra os arquivamentos pós-Lei Maria da Penha.
Ao que consta, ainda não há nenhuma decisão dos Tribunais de Justiça dos demais Estados brasileiros sobre a matéria. O certo que é a maioria não está aplicando a Lei Maria da Penha, com exceção de poucos Estados, como Mato Grosso e Pernambuco.
Qualquer que seja o resultado, porém, o julgamento será histórico em matéria de direitos da mulher. É que, se for indeferido o recurso, o Tribunal dará razão a todos os juízes e promotores que decidiram arquivar os procedimentos referidos, mantendo a tradição dos juizados especiais criminais e em desrespeito à Lei Maria da Penha. Se for deferido, será a primeira vez, em 12 anos, que a Justiça do Distrito Federal irá processar obrigatoriamente um marido por ter agredido fisicamente a mulher. Apesar do resultado do julgamento não ter efeito vinculante, ou seja, não são os juízes/promotores obrigados a mudar seu procedimento, as decisões do TJDF têm grande prestígio no meio jurídico, podendo dar início à reflexão e mudança de postura.
Resumo do caso:
No dia 02/11/06, JOSIBEL VIEIRA DA COSTA, grávida de 6 meses, perguntou a seu marido, JOSÉ ALBERTO OLIVEIRA SIMÕES, quem era a mulher que telefonou para ele. Irritado, o marido empurrou a vítima violentamente e golpeou-lhe com um relógio de parede, machucando seus braços e punhos. Em seguida, a vítima pegou o telefone para chamar a polícia, ocasião em que o marido a impediu, pegou uma uma faca e ficou passando no corpo da vítima, dizendo que iria matá-la, porém não a lesionou com a faca. Ato contínuo, o acusado foi na cozinha, pegou uma garrafa de álcool, despejou na vítima e disse que iria tocar fogo, caso ela não devolvesse sua carteira. Como a vítima não obedeceu suas ordens, o acusado voltou na cozinha, pegou um fósforo e ateou fogo na mulher. Ardendo em chamas, a vítima entrou correndo no banheiro e conseguiu apagar o fogo no chuveiro, porém teve queimaduras de 1° e 2°graus. A vitima fugiu para outro Estado e ficou na casa de sua cunhada, irmã do marido, porque não tinha para onde ir.
Uma semana após os fatos, a Promotoria de Justiça requereu a prisão preventiva do acusado e o início do processo, uma vez que a Lei Maria da Penha não exige que a vítima autorize a apuração e julgamento dessas causas, para evitar a tradicional impunidade. O Primeiro Juizado de Samambaia, porém, determinou que a vítima tinha que autorizar o processo. Assim, a cunhada da vítima a expulsou de sua casa e o acusado determinou que ela retornasse ao lar e "retirasse a queixa". Com efeito, três semanas após a violência, a vitima compareceu perante a Juíza e, na presença do acusado, pediu para encerrar todos os procedimentos. Assim, a Juíza determinou que o acusado não poderia ser preso pelo crime, apesar do pedido do Ministério Público, e arquivou o procedimento.
Irá o TJDF julgar agora o recurso da Promotoria de Justiça. Se negar o recurso, o resultado prático será o reconhecimento do direito do homem "corrigir" suas parceiras e a impossibilidade de se prender os agressores, uma vez que mais de 90% das causas continuarão sendo arquivadas, como manda a tradição.
Informações sobre o julgamento: dia 24/05/07, na Sala de Sessões da 1º Turma Criminal do TJDF; Relator: Desembargador SERGIO BITTENCOUT; Revisor: Desembargador IRAN DE LIMA; número da Sessão: 19/2007, número do processo: APR 2006.09.1.017305-7

sábado, março 03, 2007

"Não basta as mulheres ocuparem os espaços de poder, nós queremos transformar esses espaços",

No 8 de março, preparação para agosto Em meio aos preparativos para as comemorações do 8 de março, Dia Internacional da Mulher, as organizações feministas também se reúnem para discutir as diretrizes da II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, a ser realizada entre os dias 18 e 21 de agosto deste ano.
A expectativa é grande, pois além de ser realizada no primeiro ano da nova gestão do governo Lula, ocorre paralelamente às discussões do Plano Plurianual (PPA), em que o governo orienta o planejamento e a gestão dos recursos para os próximos quatro anos. O processo da Conferência já começou. Algumas plenárias municipais já se iniciaram e vão até o fim de abril. As conferências estaduais, convocadas pelos governos estaduais, vão de 15 de maio a 15 de julho.
O evento nacional será organizado pela Secretaria de Políticas para as mulheres (SPM) e terá três temas principais: a análise da realidade brasileira e os desafios para a construção da igualdade de gênero; a avaliação das ações e políticas propostas no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) e a participação das mulheres nos espaços de poder.
Neste ano, são esperadas 2.800 delegadas, um aumento de 41% em relação à Conferência anterior, informou à Rets a secretária-adjunta da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Teresa Nascimento. "Os movimentos sociais têm criado uma expectativa muito grande em relação à Conferência porque, a partir do plano que foi elaborado depois da I Conferência, as delegadas já virão mais preparadas para esta. Já sabem as ações que os governos municipais e estaduais implementaram e deixaram de implementar. E onde o governo federal falhou ou não", afirma a secretária, que acredita ser a Conferência a prova cada vez maior da interação entre o poder público e os movimentos sociais. De acordo com Beth Ferreira, da coordenação nacional da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), há nove conferências nacionais - convocadas pelo governo federal em diversas áreas - neste ano, e a idéia é atuar em todas elas. "Achamos que é importante uma atuação mais intensa dentro da Conferência de Políticas para as Mulheres e uma atuação nas outras também, já que tudo tem a ver com a vida das mulheres", afirma. Segundo ela, o movimento já tem bastantes propostas de políticas públicas, portanto, esta Conferência deve ser menos voltada para a elaboração de propostas e mais para o debate. Além disso, o longo processo de discussões que vai dos municípios até o âmbito nacional, passando pelos estados e regiões brasileiras, permite que novas histórias sejam contadas. "A idéia é poder pautar questões que muitas vezes não são pautadas. Como é a questão do desenvolvimento em cada região, as diferenças entre elas e como isso impacta na vida das mulheres, por exemplo", diz Beth. Apesar da avaliação do Plano Nacional estar entre as prioridades do encontro, assim como a participação das mulheres no poder, as bandeiras tradicionais do movimento feminista também terão espaço na Conferência. "A questão da igualdade racial, por exemplo, é um debate constante. Há uma tendência do movimento feminista de que isso não seja apenas uma bandeira do movimento negro de mulheres", afirma Beth. Guacira Cesar de Oliveira, diretora do Cfemea e também integrante da coordenação executiva nacional da AMB, lembra a questão do aborto. "Esse é um dos grandes temas que vão estar presentes desde as instâncias locais até a Conferência em Brasília", acredita. Plano Nacional
A avaliação da implementação do Plano Nacional deve alimentar grande parte dos debates na Conferência. O PNPM foi tecido a partir das diretrizes definidas na I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em julho de 2004, e contém ações propostas para a promoção da igualdade de gênero. O Plano está estruturado em torno de quatro áreas estratégicas de atuação: autonomia, igualdade no mundo do trabalho e cidadania; educação inclusiva e não sexista; saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos; e enfrentamento à violência contra as mulheres. "Em termos de propostas que cabiam ao governo federal, todas foram cumpridas", garante a secretária da SPM. Ela afirma, no entanto, que existe uma fragilidade nos governos estaduais e municipais. "Um exemplo são as delegacias especializadas para as mulheres. Nós só podemos recomendar a criação de novas unidades, porque essa é uma atribuição estadual. Então haverá cobranças dos movimentos sociais - e é bom que haja - para que os governos, em todas as instâncias, redirecionem as políticas e avancem em alguns aspectos", acredida Teresa. Para Beth Ferreira, a idéia é que o movimento possa se apropriar do plano de forma crítica. "Não dá para negar que, com a elaboração do plano, houve um avanço desde a I Conferência. Mas temos de lembrar que o contingenciamento para 2007 feito pelo governo passa pelas políticas que afetam as vidas das mulheres. Houve um corte muito grande nas políticas voltadas para o combate à violência contra a mulher, por exemplo", lembra. Segundo ela, as organizações estão mobilizadas para que não haja nenhum retrocesso em torno das diretrizes que foram aprovadas para o PNPM.
A secretária-adjunta da SPM discorda que o contingenciamento tenha sido um entrave à implementação do Plano. "Os movimentos sociais avaliaram essa questão de uma forma cartesiana, pensando no total contingenciado. Nós da SPM conseguimos descontingenciar, no segundo semestre de 2006, quase que a totalidade do nosso orçamento. Hoje sabemos, pela nossa experiência de gestão aqui na Secretaria, que, quando temos um trabalho a realizar e realizamos, conseguimos os recursos. Esse ano, se apresentarmos trabalho, tenho certeza que vai ser a mesma coisa", garante Teresa. Guacira também vê de forma crítica a implementação do Plano. "Confirmadas as suas diretrizes, temos que ver em que medida novas questões e novas prioridades precisam ser incorporadas. Eu avalio que as diretrizes do PNPM de fato são boas, mas não correspondem às diretrizes que foram ditadas pela I Conferência", avalia a diretora do Cfemea. Segundo ela, foram aprovadas diretrizes abrangentes e profundas, mas o Plano foi elaborado a partir disso, e não pela Conferência.
"O PNPM foi bem debatido, mas acredito que as prioridades não são suficientes, e os programas e ações que correspondem a essas prioridades são menos ainda", critica. Como exemplo ela cita a questão do combate à violência contra as mulheres, que foi tida como prioridade, mas as medidas e os recursos não foram suficientes. "Outra questão importante é a da autonomia econômica das mulheres, que é uma das prioridades da Conferência. Não basta ter apenas algumas iniciativas de mulheres em termos de economia solidária, mas também é preciso ter uma política de emprego, de crédito, que apóie diferentes alternativas de geração de renda", diz Guacira. PPA e Reforma Política O fato de a Conferência acontecer no primeiro ano da nova gestão do governo Lula, e em paralelo com a discussão do PPA, garante a possibilidade de articular o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres ao Plano Plurianual. "Isso foi um problema na Conferência anterior porque ela aconteceu depois das discussões do PPA. Então, muitos recursos já estavam amarrados dentro do PPA. É um desafio atuar paralelamente", acredita Beth. Segundo Guacira, a idéia é conectar todo o debate da Conferência ao processo de discussão do PPA. "Não acreditamos que uma política pública para as mulheres tenha que ser uma política específica. Há políticas específicas, sim, mas a questão da desigualdade de gênero está colocada de forma estrutural na nossa sociedade. Todas as políticas públicas têm de visar ao combate a essas desigualdades", acredita. Para ela, uma política de combate à pobreza só será eficaz se olhar para questão de gênero e como essa desigualdade entre homens e mulheres produz pobreza. O outro grande eixo da Conferência vai tratar da questão da participação política das mulheres. As eleições do ano passado mostram que pouco ou quase nada tem se avançado neste campo, pois foram eleitas menos mulheres para cargos públicos do que na eleição anterior. "Estamos muito envolvidas na questão do debate da Reforma Política com participação popular. Não é um tema exclusivo dos partidos políticos, como não se trata apenas de uma reforma político-eleitoral", afirma Guacira. Ela destaca que vários temas têm de entrar nessa discussão, tais como os mecanismos de participação e de controle social, os conselhos, as Conferências e os mecanismos da democracia direta. "As mulheres querem exercer seus direitos não só delegando poderes, mas exercendo plenamente a sua cidadania", defende. "Não basta as mulheres ocuparem os espaços de poder, nós queremos transformar esses espaços", complementa Beth Ferreira, da AMB. "A discussão sobre a participação das mulheres nos espaços está em debate em todos os estados e é uma questão muito importante. O governo já voltou atrás na proposta da Reforma Política e os esforços propostos por ele serão muito pequenos. O que nós reivindicamos é uma Reforma ampla, que promova a democracia representativa direta", diz Beth. Ela chama a atenção também para a necessidade de se discutir o famoso PAC: o Programa de Aceleração do Crescimento, apresentado neste ano pelo governo. Segundo ela, o PAC traz de volta a idéia do crescimento a qualquer custo. "Por mais que o governo diga que é crescimento com distribuição, o plano não propõe isso. Há cortes na área social e isso tem um impacto muito grande na vida das mulheres. O foco é na infra-estrutura e energia, que são importantes, mas não mais do que a políticas sociais", critica Beth. Teresa, da SPM, lembra que o PAC social, em gestação no governo federal, trará muitos benefícios no campo das políticas sociais, que afetarão diretamente as mulheres.