Soltem-me, pedia Yoani

... Vão ter de escutar Porque se algo tenho é a palavra para falar Yoani Sanchez Uma jovem mulher de Cuba que sofreu violência institucional. Quantas de nós aqui também no Brasil sofreram de violência policial! ...
...
"As duas violências foram muito graves, a doméstica e a institucional. Em ambas, me senti impotente. Mas não ver a quem recorrer é algo que deixa a pessoa muito frustrada, deprimida"

Maria da Penha

sábado, dezembro 09, 2006

Ericka O. Erickson fala por nós, mulheres.

http://www.politic.com.br/cols_view.php?id=436
Coluna22/08/2006 - por Ericka Erickson

Casamento, transformações e poder

O casamento é uma instituição que foi criada há algumas centenas de anos baseada em princípios como procriação e acúmulo e manutenção de propriedades.

"Na maior parte da história do casamento, o coração tinha pouca importância. O casamento arranjado era a norma. Na verdade, a idéia moderna de se casar por amor é um fenômeno relativamente novo, que só surgiu cerca de 200 anos atrás."(1) Religiões, especialmente as cristãs, contribuem para o fortalecimento do casamento como instituição aceita e desejada.

O conceito de pecado e a consequente culpa ajudam a manter os desejos humanos contrários à união estável escondidos, submissos ao que é aceito como norma social.
O sacrifício é glorificado como o caminho para a purificação da alma e a felicidade, a qual é convenientemente adiada. O advento da contracepção causou transformações na concepção de casamento, pois

"No final do século 19, as mulheres começaram a usar cada vez mais o controle natal, que era rudimentar, mas funcionava.

Já na década de 20, a noção de que o sexo marital era para o prazer, e não apenas para procriação, estava firmemente implantada na cultura. Pela primeira vez na história o casamento foi separado da procriação." (2) O poder físico e econômico, geralmente do homem sobre a mulher, garantia, e garante muitas vezes, que o casamento fosse mantido por muitos e muitos anos.

O poder do conhecimento formal também foi contido por muitas anos nos círculos masculinos, tornando difícil a emancipação da mulher. Atualmente vemos uma gradual e veloz transformação nas tradições e instituições. A globalização e a era da informação estão modificando radicalmente a forma que vivemos e nossa identidade como indivíduos.

A geração que hoje está entre os 20 e 40 anos é a primeira na qual mulheres são tão ou mais educadas que os homens, e consequentement mais economicamente autosuficientes do que gerações anteriores.

O casamento entre homem e mulher, especialmente nas culturas ocidentais de países ditos desenvolvidos, não é mais a única alternativa aceita de relacionamento.

Esse quadro muda radicalmente as instituições tradicionais como as conhecemos, dentre elas o casamento. Mais e mais pessoas procuram terapeutas para tentar se entender nessa transformação, a qual muitas vezes nem os mais profissionais psicólogos conseguem ou querem explicar.

As religiões vêem o número de "fiéis" aumentar, os quais tentam se agarrar em um porto seguro em meio ao furacão de mudanças. É normal que ainda tentemos viver e manter as tradições e os valores como os conhecemos.

Infelizmente, em uma época como a que vivemos, os conflitos psicológicos derivados de instituições tradicionais são ainda mais fortes, pois não necessitamos nos conformar mais com o que nos é apresentado, principalmente as mulheres.

No caso dos homens, muitos hoje recorrem à violência contra a mulher (a qual vem crescendo nas culturas ocidentais), em suas várias formas, pois não sabem lidar com a tranformação de atitudes. Com isso, é necessário alterar outras instituições para que acompanhem essas transformações. Um exemplo, no qual o Brasil é pioneiro, é a Delegacia de Mulheres.

Em uma sociedade com instituições tradicionalmente dominadas pelos homens, como a polícia, é crucial que nós mulheres trabalhemos para a promoção da participação feminina em decisões que nos afetam.

Também precisamos investimentos em programas que promovam a autonomia social e econômica e o desenvolvimento político da mulher.

Assim poderemos, como sociedade, prevenir e trabalhar melhor casos como a de Ana Maria Bruni www.territoriomulher.com.br, que enviou-me um e-mail sobre seu caso de sofrimento de abuso de poder de autoridades em Itacaré-Bahia.

Somente com a união, solidariedade e atuação pública feminina vamos poder realmente escutar, respeitar os direitos e promover o poder das
Ana Marias de nosso Brasil e do mundo.


ERICKA ERICKSON, M.P.A. é Diretora de Programas da ONG Grassroots Leadership Network (Rede de Lideranças Populares) em Marin County (Califórnia, EUA) e atua como consultora organizacional para ONGs na área de avaliação de programas, facilitação de eventos e projetos de aprendizagem.

Ericka é Administradora formada pela Universidade Federal Fluminense/RJ e Mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas.Sua experiência profissional inclui o ensino de administração, marketing e responsabilidade social em universidades brasileiras como UFF, Unigranrio e Cândido Mendes (RJ). Ericka também é membro da Marin Women´s Commision (Comissão de Mulheres do Condado de Marin/CA/USA) e serve como voluntária no Conselho Diretor da ONG Violence Prevention Forum (Fórum de Prevenção à Violência/EUA).


Referências: (1) e (2) mixbrasil.uol.com.br/troctroc/arena/casamento.asp, em 20/08/06 Guiddens, Anthony. A transformação da intimidade. Cortez, 1999. Guiddens, Anthony. Runaway World. news.bbc.co.uk/hi/english/static/events/reith_99/, em 11/08/06